quinta-feira, agosto 09, 2007

Stela do Patrocínio - olha isso!




Não deu tempo

Eu estava tomando claridade e luz

Quando a luz apagou

A claridade apagou

Tudo ficou nas trevas

Na madrugada mundial

Sem luz




Eu era gases puro, ar, espaço vazio, tempo

Eu era ar, espaço vazio, tempo

E gazes puro, assim, ó, espaço vazio, ó

Eu não tinha formação

Não tinha formatura

Não tinha onde fazer cabeça

Fazer braço, fazer corpo

Fazer orelha, fazer nariz

Fazer céu da boca, fazer falatório

Fazer músculo, fazer dente



Eu não tinha onde fazer nada dessas coisas

Fazer cabeça, pensar em alguma coisa

Ser útil, inteligente, ser raciocínio

Não tinha onde tirar nada disso

Eu era espaço vazio puro

Stela do Patrocínio - impressionante!



como quem não quer nada, numa noite dessas estava inocentemente vendo televisão, quando ouvi o seguinte texto:

É dito: pelo chão você não pode ficar

Porque lugar da cabeça é na cabeça

Lugar de corpo é no corpo

Pelas paredes você também não pode

Pelas camas também você não vai poder ficar

Pelo espaço vazio você também não vai poder ficar

Porque lugar da cabeça é na cabeça

Lugar de corpo é no corpo


fiquei parado, em choque. minha obsessão por autores impressionantes me levou imediatamente a acompanhar o programa - chatíssimo - para descobrir o nome do autor do texto impressionante. Stela do Patrocínio é o nome dela. comprei o único livro com seus textos. segue informações retiradas do site "confraria do vento"

STELA DO PATROCÍNIO, nascida em 1941, impressionou profundamente a artista plástica Neli Gutmacher e suas estagiárias, quando esta foi convidada, na década de 80, a montar um ateliê na Colônia Psiquiátrica Juliano Moreira. Interna desde 1962, Stela se destacava dos outros pacientes por sua fala peculiar, com alto teor poético. Algumas de suas falas foram gravadas em fitas cassetes e, quase quinze anos depois, foram transcritas, organizadas em forma de poesia e reunidas em livro pela escritora Viviane Mosé. "Reino dos bichos e dos animais é o meu nome" atingiu tal repercussão que, em 2002, tornou-se finalista do Prêmio Jabuti e, em 2005, levou a fala de Stela a ser transformada em ópera pelo compositor Lincoln Antonio. Apesar de amplamente divulgados e acolhidos com entusiasmo por poetas e intelectuais, seus poemas permanecem relativamente desconhecidos do público em geral, talvez pela falta de uma divulgação pública das gravações, ou de uma nova edição com a transcrição integral de sua fala.

Totalmente abandonada pela família, Stela permaneceu por quase 30 anos interna da colônia psiquiátrica, sem nunca ter saído de lá; veio a morrer em 1997, vítima de uma infecção generalizada.