um pedaço da minha tese de mestrado que, não poderia ser diferente, fala sobre FESTA!
No carnaval de 1995 ouvi pelas ruas de Olinda um mestre de boi cantando uns versos de improviso, uma loa, como se diz. Os versos não vou poder reproduzir, mas era uma louvação a Deus pela proteção dada para poder, ?no tempo do mundo virado?, estar vendo as coisas bonitas sem se meter em confusão. Desde então é esta a noção de festa que carrego. Independente dos adjetivos aplicados às diversas comemorações ? festas cívicas, religiosas, pagãs ? a festa marca o tempo das coisas bonitas; é a isso que se comemora: as coisas bonitas. É um tempo que não se preenche, é um tempo do qual se participa. Diferente do tempo ordinário, não existe passado ou futuro, somente um presente gordo, obliterado, em si mesmo. O que distingue a realidade natural da representação é antes a temporalidade sinalizada pelo figurino e a música do que uma atitude mental diferenciada a respeito de si ou dos outros.
Ainda hoje é comum nas várias localidades do Brasil ser o cotidiano o período entre-festas. O tempo é pautado em função das comemorações de São João, do Natal, do carnaval, a festa do Rosário. Do dia comum se perde a data, mas do Natal todos sabem. O clima do carnaval começa com meses de antecedência, seja pelo planejamento pessoal ou socialmente compartilhado nos gritos de Carnaval .
?No tempo do mundo virado? estão suspensas todas as regras ou obrigações do cotidiano. Toda uma conjunta de estratégias aplicadas para administrar o tempo ordinário é substituída por uma série de táticas aplicadas a um novo contexto de vivências em que o compromisso com tempo inexiste. O que existe é a festa e na festa interessa ritmo do próprio sujeito e o ritmo do todo.
notas:
?Isso parece-me agora também característico para a festa: o fato de que ela, pela sua própria festividade faz parar o tempo e leva-o a demorar-se ? isto é o festejar?. Gadamer, Hans-Georg: A atualidade do belo: a arte como jogo, símbolo e festa. ? Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1985. p ? 65.
?espero um ano inteiro / até ver chegar fevereiro / para ouvir o clarim clarinar / e a alegria chegar / essa alegria em mim parece que não terá fim / mas se o frevo acabar acho que vou chorar?
"De Chapéu de sol Aberto", frevo canção de Capiba em parceria com Ferreira dos Santos, gravadora Marcus Pereira, 1972;
Um comentário:
.festança.brasilidade.me veio agora:
Manhã de carnaval
[Luís Bonfá e Antônio Maria]
Manhã, tão bonita manhã
Na vida, uma nova canção
Cantando só teus olhos
Teu riso, tuas mãos
Pois há de haver um dia
Em que virás
Das cordas do meu violão
Que só teu amor procurou
Vem uma voz
Falar dos beijos perdidos
Nos lábios teus
Canta o meu coração
Alegria voltou
Tão feliz a manhã
Deste amor
.abraços.
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