terça-feira, setembro 27, 2005
trabalho de escola
(um momentinho, só para explicar: o que se segue é um trabalho de escola. foi feito para a matéria de história da arquitetura - antiguidade clássica até medievo. ficou tão bem escrito que eu não resisti: pedi autorização e publiquei aqui para quem interessar possa. parece cinema, com edição de som e imagem. linda fotografia. texto sofisticado. dá pra ver a palpebra da escritora piscando quando muda de foco! uma beleza! era só para descrever um lugar e a menina mostrou cinema! lindo de morrer o poder da invensão!)
Antes de tudo, vou me justificar! Não escolhi o espaço, o qual deveria fazer o exercício proposto.
Não!
Ao contrário, fui escolhida por ele. Fui envolvida quando nele me vi atascada. Já não podia mais renegar a experiência alí vivida. Confesso que preferia optar por espaços transcendentais ou poéticos, porém sou urbana e atada ao cotidiano.
25 de agosto de 2005
Esperava ansiosamente pelo 0.517, destino: Setor Oeste de Sobradinho. Olho o relógio: 18h15min. Três descrições para o momento: cansada depois de passar o dia inteiro no CEUB, faminta ? última refeição: delicius (restaurante em frente a faculdade) 12h e atrasada caso não chegue às 19h em casa para depois ir ao treino de tae kwon do...
Entrei e me dirigi ao fundo do ônibus que estava relativamente vazio para o horário, contudo, todas as cadeiras já estavam ocupadas, me sentei nos degraus da escada, pus meu discman para escutar: Com você... Meu mundo ficaria completo da Cássia Eller. Logo me transportei para longe. Minha mente estava a mil. Pensei no meu dia e como queria minha casa, um banho e comida, hum, como queria um chocolate quente e um pão fresco com manteiga! Porém a vigem estaria apenas começando ainda levaria cerca de quarenta minutos ou até mesmo uma hora para chegar... Olhei para a janela, e tocava O Segundo Sol. Lá fora o sol se punha no horizonte em cores púrpura e laranja, fixava minha atenção em cada enquadramento desta paisagem na medida em que o tempo transcorria. Estava longe e só. Eu e o sol. Eu e o sol?
Poderia mais alguém estar compartilhando dos mesmos devaneios que eu?
Percorri com o olhar o espaço circundante. Dei-me conta que todos aqueles segundos de contemplação poderiam estar sendo compartilhados com alguma outra pessoa. Busquei em todos os semblantes alí presentes. Estavam aproximadamente sessenta pessoas: algumas olhavam o mesmo sol, outras conversavam, outras dormiam. O fato que eram sessenta pessoas diferentes. Eram idosos, estudantes, pais de família. Sessenta vivencias distintas.
As luzes da cidade começam a reluzir com maior intensidade. Os ministérios e a terceira ponte do lago sul surgem no horizonte tomado pela escuridão. Mi sol ya se há puesto...
Pausa:
Começa uma das minhas faixas prediletas... E eu a acompanho e canto o mais alto possível
?Não é porque eu sujei a roupa bem agora que eu já estava saindo
Nem mesmo por que eu peguei o maior trânsito e acabei perdendo o cinema
Não é por que não acho o papel onde anotei o telefone que estou precisando
Nem mesmo o dedo que eu cortei abrindo a lata e ainda continua sangrando...?
Meu mundo ficaria completo (com você)
Confesso muito romântica, mas muito divertida!
A via por onde passamos desenha curvas é íngrime e o volume de veículos é considerável. Assim como a velocidade em que nos deslocamos diminui, minhas associações começam a se organizar de forma mais definida e menos esquizofrênica.
Finalmente alguém cede lugar para o velhinho...
Ou não!
Voltando... Começo a reparar nos componentes físicos do espaço: as cadeiras que estão lado a lado de duas a duas formam fileiras nas laterais como corredor no meio. Porque não o contrário? Talvez não coubessem tantas pessoas... Vejo a cor do estofado e reparo que o piso é antiderrapante. Embora este elemento tenha sido o último a ser tomado em nota talvez fosse o primeiro se hoje estivesse chovendo...
Tenho que me levantar para dar passagem a um senhor que irá descer.
Já se passou trinta minutos e acabei de passar pelo colorado. Prefiro ficar de pé. Minha coluna dói por ficar tanto tempo na mesma posição. Ao me encontrar de pé olho a janela e vejo outro ônibus igual a este passando, vejo também outras pessoas, eu não sou a única a reparar neste fator. Pessoas gostam de ver pessoas. E em meu caso também analiso todos os elementos pertencentes a este espaço pelo tempo que me for lícito. Uma questão surge: em que todas estas pessoas estarão pensando? Na mesma janela vejo imagens que despertam maior atenção que a paisagem, outrora tão observada.
Não vejo apenas meu reflexo; agora, vários. Do vidro posso enxergar a senhora que está na primeira fileira e deste modo acompanho seus movimentos. O material me possibilita ver suas expressões faciais e quase adivinhar o momento de ápice de sua leitura, que talvez se encontre próximo ao fim... Não me importo mais!
Dou sinal. Irei descer.
(...)
Vanessa Schnabel F. Chini
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2 comentários:
sávio, você foi generoso nos elogios...
obrigada!
O texto da Vanessilda ficou muito bom mesmo. Foi um "relato-diário", com todos os sentidos que o termo pode oferecer.
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